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segunda-feira, agosto 02, 2004

A Colina Proibida



Numa cidade ao sul de Esparta, havia uma colina que era tida como amaldiçoada. O terreno era cercado por arame e estacas e a única coisa que se sabia sobre o seu dono era que ele havia desaparecido ao entrar em sua propriedade, há uns 15 anos atrás. Por ser um terreno grande, o topo da colina não podia ser visto com clareza, a não ser que algum corajoso se aventurasse a adentrar pelo terreno.

Muitas outras pessoas já haviam desaparecido durante todos esses anos. No entanto, a maioria dos que tentavam chegar lá conseguiam retornar, pois ao chegar num determinado ponto do caminho, voltavam amedrontados. O que descreviam era realmente assustador: ao se aproximarem do cume, viam dezenas de corpos estirados no chão e pensavam que, se chegassem até lá, terminariam por se juntar àquela cena desoladora. Pensavam em suas famílias, seus trabalhos e sua vida pacata, e por não quererem abandonar tudo para encontrarem-se com a morte, voltavam para casa e ajudavam a manter o mito de que aquele era um lugar proibido.

Certo dia, um importante fazendeiro local, que tinha muitas posses e empregados, resolveu mostrar sua coragem e ir até a colina. Na verdade não era uma coragem de quem quer provar algo para alguém, mas, a de um buscador espiritual, que tinha se sentido atraído por aquele mistério e decidiu encará-lo de frente. Sua família tentou persuadi-lo a não fazer aquela loucura, mas como era um bom homem, e mantinha seus ideais firmes, despediu-se de seus queridos e foi em direção ao desconhecido.

Chegando lá, junto à cerca, alguns curiosos apenas olhavam aquele senhor, que aparentava ter uns 56 anos, que parecia ter enlouquecido para fazer tal insanidade. Muitos praguejavam, dizendo que ele estava sendo louco e egoísta por deixar sua família sem o seu amparo.

Mas mesmo assim o determinado homem passou pela cerca e começou a caminhar. Tinha um semblante sereno quando já se aproximava do “ponto de retorno”. Ele, que já conhecia as histórias sobre os corpos, continuou confiante e seguiu sua marcha. Mas nesse momento lhe vieram os mesmos pensamentos que faziam as pessoas retornarem. Pensou em sua família, sua fazenda e tudo aquilo que tinha na vida.

“- Eles conseguem viver sem mim. Meus filhos estão crescidos e podem tomar conta dos negócios.” – pensou o bom homem.

Ao se aproximar dos corpos, sua apreensão deu lugar a um sentimento de estupefação. Os corpos não cheiravam mal, mas ao contrário, exalavam um tênue e agradável perfume. Seus rostos demonstravam um ar de alegria, o que lhe intrigou ainda mais. Estarrecido, ele chegou mais perto e viu que também não apresentavam sinais de decomposição. Com a mente confusa, seguiu adiante por entre os corpos até o seu destino:o topo da colina.

Mas no momento em que apressara seu passo, uma luz branca e resplandecente ofuscou seus olhos. Ele se viu rodeado por essa luz e, ao invés de se apavorar, sentiu uma enorme calma. Ao parar, ouviu uma voz que não parecia vir de lugar algum, mas que lhe sussurrou as seguintes palavras:

“- Você teve coragem de deixar sua vida e tudo o que lhe prendia a ela. Demonstrou desapego e fé, até mesmo quando não conhecia nada à sua frente. Junte-se aos demais que já vieram e livre-se desse mundo de paixões e injustiça. Você agora é um Iluminado.”

Nisso, a luz desapareceu, mas não por completo, pois ele mesmo se viu rodeado de luz - a sua própria. Novamente pensou em sua família, mas dessa vez abençoando-lhes e desejando que mais pessoas tomassem coragem de chegar até aquele ponto da colina.

E com uma ação de sua vontade, fundiu-se com sua própria luz e largou seu corpo mundano.

Enfim, ele retornara.